Ethos Animalis

"Os animais não são nossos para comer, usar, fazer experiências, ou para entretenimento."

Por Rachel


Reduzir (reduce), refinar (refine), substituir (replace). Esta foi a “política” lançada em 1959 por Russel (zoologista) e Burch (microbiologista) para as pesquisas que envolvem o uso de animais. Mais de cinqüenta anos depois, ainda tentamos resgatar esse “mandamento” para os atuais procedimentos experimentais.
O ser humano, em sua essência, tem um poder de abstração enorme, extrapolando essa característica também para a criatividade. Inovação é uma palavra um tanto quanto intrínseca ao homem; parece-nos, no entanto, que esse substantivo nos tem faltado no ambiente de experimentação animal. A estagnação e o retrocesso são execráveis na história da humanidade; então, por que alguns ainda persistem nesse “degrau”?
Alguns encontros e premiações são promovidos para incentivar a progressão na área dos “três Rs”. Um exemplo é o “Alternative Methods to Animal Experimentation Award”, que reconhece uma contribuição considerável frente o desenvolvimento confiável de testes que substituem (replace) ou reduzem (reduce) o uso de animais em pesquisa científica. Dr. Flint, vencedor desse prêmio em 1986, no Reino Unido, foi um dos contribuidores para o avanço na ciência: seu método usou 2-3 animais em teste de cultura de células primárias obtidas do mesencéfalo de embriões de rato. As células são removidas dos embirões antes de sua diferenciação, e dentro de 5 dias de cultura, as células começam a se diferenciar. Sua frente de pesquisa foi o uso de agentes teratogênicos nas placas de cultura, que inibe ou altera a diferenciação das células em neurônios. Com esse seu método, apenas uma pequena quantidade de agente teratogênico é exigido: 10 a 20mg; em contraste, um teste completamente in vivo exigiria uma quantidade de composto teratogênico da ordem de gramas e se utilizariam cerca de 150 animais, levando um tempo de 4 a 6 meses para ser concluído.
Modelos moleculares e gráficos computacionais estão em voga na área científica. John Dearden, escritor do periódico ATLA (Alternatives to Laboratory Animals), em uma coluna do exemplar de Setembro de 1986, comentou esse assunto: tratava-se do VDU (Visual Display Unit), antigo PC, usado na representação molecular. A molécula podia ser disposta em diferentes ângulos e podia ser alterada à vontade do usuário do sistema; átomos ou grupos podiam ser coloridos como legendas, etc. Companhias de pesticidas, por exemplo, tem usado esses modelos virtuais cada vez mais, agora mais sofisticados.
Inúmeros modelos têm sido sugeridos à sociedade com enfoque no bem-estar animal. Por exemplo, para prevenir o aborrecimento, os animais deveriam de ter um ambiente enriquecido com atividades em suas gaiolas (já mencionado em 1925, por Yerkes); ou para evitar estresse causado por isolação social em macacos, cães e ratos, por exemplo, cientistas deveriam considerar a possibilidade de compartilhar animais no mesmo ambiente para almejar a socialização. Foi também assegurado por experiências que a manipulação do animal torna-se menos trabalhosa após esse processo. Profissionais da área, no entanto, ainda insistem no isolamento desses animais. Protocolos datados da década de 1950 citavam várias formas de se zelar pelo bem-estar do animal na experimentação científica.
De um modo curioso, as mesmas práticas ressurgem em protocolos mais recentes, especialmente no Reino Unido, país em que mais notoriamente se prezou pelos direitos dos animais. Um exemplo disso, é um artigo de 1989, relacionando diversas maneiras de se lidar com animais de laboratórios cujo objetivo é o estudo de neoplasias. Nesse documento, há recomendações gerais na manipulação dos animais: o modelo-piloto do experimento deve ser feito com um número pequeno de animais e ainda frisa que, em todos os experimentos, o número de cobaias a ser utilizado deve ser o mínimo possível.
O fato é que há inúmeros documentos cada vez mais recentes tentando resgatar todas aquelas recomendações já mencionadas previamente na década de 20. Uma questão a ser levantada é: por que necessitamos voltar, e voltar, e voltar nesse mesmo assunto? O que leva cientistas persistirem em uma prática ainda arcaica e desnecessária? Por que algumas normas e recomendações são seguidas em determinados países e em outros não? Será que os animais destes são diferentes daqueles?
Uma frase que pode ilustrar esse assunto como um todo seria esta: “Good science and humane ethics are consonant and complementary” (Boa ciência e ética humana são consoantes e complementares). A Bioética está à disposição para maiores esclarecimentos!

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Um pouco sobre o Blog

"Bem-vindo ao Ethos Animalis! Este blog foi criado por estudantes de Bioética, da Universidade de Brasília, com o intuito de levantar questões polêmicas e expor diferentes opiniões sobre a experimentação usando cobaias não-humanas. Serão abordadas várias situações, conceitos, exemplos, etc... Nosso objetivo também é mostrar o que já foi feito em prol dos animais no que diz respeito ao seu uso na Ciência. Sinta-se à vontade para comentar, criticar, sugerir, etc. Afinal, num espaço ético, opiniões são expressas e respeitadas!"

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